quinta-feira, 11 de abril de 2013

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Disciplina/indisciplina: e quem nos explica o mundo?

Margarida César,
Universidade de Lisboa

Como psicóloga, sou muitas vezes consultada, sobre casos que envolvem indisciplina. Aliás, geralmente, quando me pedem colaboração, é porque algo não corre lá muito bem e, quando essa condição se altera, os meus serviços deixam de ser necessários... até que surge um novo caso em que algo não corre como seria de desejar. Assim, se os casos de indisciplina (e não só) não tivessem solução, ou se todos os professores acreditassem que assim era, há muito que teria deixado de ser contactada. O que ainda não aconteceu.
Deixem-me confessar que esse facto me alegra imenso. Não tanto porque eu não pudesse fazer uma outra coisa na vida mas porque, ao contrário de algumas pessoas que se têm ultimamente pronunciado, acredito cada vez mais que todas as crianças e jovens são educáveis. Todos eles têm potencialidades que, se descobrirmos, lhes permitem construir uma identidade positiva, integrarem-se socialmente, desenvolverem um projecto de vida em que acreditem.
As formas de actuação dos professores face à indisciplina são muito dispares e é frequente vermos alguns muito preocupados em conseguir integrar um determinado aluno e promover o seu sucesso escolar, enquanto outros têm com ele uma atitude de conflito aberto, de hostilização, muitas vezes até de abuso de poder, que dificilmente pode contribuir para que o aluno se desenvolva e integre na escola.
Deixem que vos conte brevemente dois casos, ocorridos recentemente. Numa turma é leccionado um currículo alternativo. Os alunos têm muita dificuldade em não ter comportamentos que sejam perturbadores. No entanto, os professores têm feito um esforço notável para os motivar, para os levar a apreender os conhecimentos e a adquirir novas competências. São aulas desgastantes, que exigem muito tacto e muita capacidade para gerir potenciais conflitos, onde é necessária muita resistência à frustração. Mas, no final do ano lectivo, a experiência vivida foi descrita como muito compensadora. Se estes alunos tivessem sido julgados pelos padrões habituais de disciplina, a maioria não teria permanecido na escola... e, como tal, não teria tido oportunidade de mostrar comportamentos mais adaptados e, sobretudo, de investir num projecto de vida futuro.
Noutra escola, coexistem alunos de meios sócio-económicos e culturais muito distintos, e de etnias diversas. No final do 1º período mais de metade dos alunos tinham sido suspensos. Provavelmente a maioria das suspensões desta turma não teriam existido se os casos tivessem ocorrido com outros professores. É uma turma com 30 alunos, do 7º ano de escolaridade, alguns deles vindos de meios onde os hábitos sociais e culturais (mesmo a língua materna) são muito diferentes dos da escola. Os alunos não têm problemas disciplinares nem de aproveitamento com dois professores: o maior sucesso escolar é a Português e a Matemática. O que talvez nos dê muito que pensar.
Os professores são confrontados com casos de indisciplina, que têm de saber resolver. Mais importante ainda: são as atitudes dos professores que podem evitar muitos dos casos de indisciplina. Respeitando os alunos, discutindo com eles as regras da escola e fazendo-os partilhar as decisões a tomar, criando um bom clima de trabalho e uma relação menos desigual. Tentando compreender o que provoca um determinado comportamento e arranjando formas de o evitar. Pedindo acompanhamento de técnicos especializados para os casos mais complicados, que já ultrapassam aquilo que podem solucionar com as suas atitudes na sala de aula, mas que se irão agravar se aquele aluno apenas for confrontado com medidas punitivas, às quais se sente incapaz de responder.
A indisciplina pode ser uma manifestação de muitas coisas diferentes: a expressão de um mal estar interior; a tentativa de dissolver o grupo turma porque aquele aluno necessita de estabelecer uma relação pessoal e única com o professor; uma forma de boicote às actividades da aula porque estas não lhe interessam ou porque se julga incapaz de as realizar com sucesso; uma forma de mostrar a sua revolta e a sua desconfiança perante os adultos, sendo o professor o que está mais perto e acessível; uma vontade de medir forças porque se está a crescer e há necessidade de afirmação; uma oposição pelo facto de ser forçado a estar ali, a aprender, quando lhe apetecia muito mais fazer outras coisas e estar com outras pessoas; uma maneira de forçar o professor a negociar novas regras porque ele é só um e os alunos são muitos, se eles se unirem todos, têm imensa força; uma falta de um projecto de vida que passe pela escola.
Os casos de indisciplina exigem soluções diversificadas. Mas todos eles precisam de disponibilidade, esforço, paciência e, nos casos mais difíceis, tempo. Não há casos perdidos, há é casos que não têm soluções rápidas e em que é preciso investir muito antes de vermos resultados.
Mas é suposto que os adultos somos nós, não só para mandarmos mais, também para compreendermos mais, para sabermos ajudar mais, quando isso é necessário. E para termos mais bom senso. Porque não há documento, por melhor que seja, que só porque existe resolva os nossos problemas.
E como me disse um aluno que tinha sido repreendido: “Querem-nos direitinhos, todos bem comportados, obedientes... e quem nos explica o mundo?”




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